Guinga: a trajetória do compositor e violonista brasileiro

Via Musical Via Musical

Conheça a história e a obra de Guinga, compositor e violonista

Em uma entrevista ao guitarrista Nelson Faria, Guinga enuncia uma frase que poderia soar como um resumo de sua obra: “a música tem esse poder, ela te leva adiante, te leva para trás… para a música não há tempo, ou ele é elástico”.

De fato, quem escuta Guinga pela primeira vez dificilmente aposta que trata-se de um compositor vivo e atuante, autor de mais de 300 músicas (muitas conhecidas) e compondo ainda hoje. Algumas vezes, a sensação é de que esse artista já se perdeu no tempo e, em outras, de que trata-se de alguém que ainda vai nascer.

Guinga começou tardiamente na composição mas, à época, já era um violonista muito respeitado. Sua experiência com a música, ao contrário, começou muito cedo: ao longo dos seus primeiros anos como profissional, o carioca acompanhou nomes de peso.

Reconhecido no Brasil e no exterior, é um dos músicos mais premiados por suas composições. A obra desse artista é reconhecida como sinônimo de beleza, bom gosto e muito apuro estético, características de que Guinga não abre mão.

Neste artigo, vamos apresentar a você a vida e a obra desse importante compositor do Rio de Janeiro. Você vai conferir quem é Guinga, como começou seu interesse pela música e ficar por dentro de algumas de suas músicas mais famosas. Leia até o fim!

Os primeiros anos de Guinga na música

Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar nasceu em junho de 1950 no Rio de Janeiro. Sua primeira residência foi no bairro carioca de Vila Valqueire, na Zona Oeste da cidade.

Mais tarde, aos 11 anos, com a separação dos pais, o rapaz foi morar com a avó e um tio, na cidade fluminense de Jacarepaguá, a uns poucos quilômetros do Rio. Por causa desse endereço, ficou conhecido como “o violonista do subúrbio”.

Segundo o próprio Guinga, sua primeira influência musical veio no seio da família: ele aprendeu a admirar o tio, que tocava antigas modinhas e peças de violão compostas pelo violonista brasileiro Dilermando Reis. Já nessa época, aprendia algumas músicas instrumentais de cor.

Mais tarde, conheceu outro nome antológico do violão brasileiro: Hélio Delmiro. Este, à época com 16 anos, já era um grande virtuoso no instrumento. Virtuosos ou virtuoses são os músicos, sobretudo instrumentistas, com habilidades muito acima da média.

O contato com aquele rapaz levou Guinga a se envolver progressivamente com a música, inclusive desenvolvendo com Hélio uma amizade que dura até os dias de hoje.

A partir daí, o futuro compositor do subúrbio acabou lapidando ocasionalmente sua capacidade de compor: uma vez, um amigo entregou-lhe letras e pediu que fizesse as músicas; na outra, inscreveu-se num concurso porque precisava de dinheiro.

Curiosamente, ele não tem formação acadêmica em música. Seu curso superior foi o de Odontologia, profissão que exerceu por quase 20 anos e só interrompeu para dar início à carreira de compositor em 1993.

Segundo Guinga, o que melhora o compositor é o trabalho. Quem confia apenas no talento fica estagnado. Baita lição para os que estão começando no violão, concorda?

As influências musicais do compositor

Para todo artista, as obras de arte que ele aprecia e admira são tão importantes quanto as ideias que ele quer transmitir pelo seu próprio trabalho artístico. São as chamadas “influências”, um assunto de que todo compositor gosta de falar.

No caso de Guinga, muitos supõem que ele foi influenciado pelo jazz. Talvez isso aconteça porque esse tipo de música é bastante sofisticado, assim como as composições do carioca.

No entanto, as principais inspirações de Guinga são o Choro, o Samba e a Música Clássica ou Erudita, como é chamada. Segundo o próprio compositor, ele não gosta de improvisar (a improvisação é a base do jazz). Ou seja, embora se divirta ouvindo esse tipo de música, ela não está entre suas maiores influências.

Talvez por isso, Guinga sempre foi considerado um compositor brasileiro por excelência. Suas canções e peças instrumentais carregam a marca dos principais estilos do nosso país: além do Choro e do Samba, elas refletem as modinhas e ritmos regionais, como é o caso do Baião.

Assim também, muito brasileira, foi a escolha do violão. Esse instrumento, cuja origem é motivo de dúvidas — há quem diga que é espanhol ou português, outros afirmam ser árabe — acabou se tornando brasileiro por afeição.

Enquanto em outros países o piano é muito facilmente encontrado nas casas, o violão foi o que apareceu primeiro na vida de Guinga. Logo, as seis cordas tornaram-se as companheiras que lhe permitiram transformar pensamentos musicais em sons.

A obra de Guinga

Antes de se estabelecer como compositor, Guinga atuou como violonista ao lado de grandes nomes da música popular brasileira: Leila Pinheiro, Clara Nunes, Mônica Salmaso, Alaíde Costa, Beth Carvalho e até mesmo Cartola.

Apenas depois dos 40 anos, em 1996 começou a gravar suas próprias músicas, algumas vezes atuando também como cantor, em outras convidando intérpretes como Leila Pinheiro e Mônica Salmaso. Outros gigantes da MPB como Chico Buarque, Ivan Lins e Ronnie Von também gravaram algumas de suas composições.

Guinga tem cerca de 24 álbuns gravados (se contarmos apenas aqueles com conteúdo autoral). Dentre eles, destacam-se:

  • Delírio Carioca (1993);
  • Cheio de Dedos (1996);
  • Noturno Copacabana (2003);
  • Francis e Guinga (2013), com o pianista e compositor Francis Hime e;
  • Avenida Atlântica (2017).

Se você é um iniciante na obra do compositor, recomendamos começar por músicas como Catavento e Girassol (parceria com o letrista Aldir Blanc, falecido em 2020, vítima de Covid), os choros Cheio de DedosChoro Pro Zé; além da valsa Senhorinha.

As músicas de Guinga nem sempre são simples, e são características suas as harmonias bem elaboradas, com belíssimas sequências de acordes, muitas vezes usando as cordas soltas do violão de uma forma única.

As melodias do músico são muito inspiradas pelo chorinho e pelas valsas, mas Guinga também é fã de compositores estrangeiros famosos por suas linhas melódicas, como o francês Claude Debussy (1862-1918) e o saxofonista estadunidense Stan Getz.

Se você não sabe a definição dos conceitos de harmonia e melodia, vale a pena aproveitar a chance de aprendê-la:

  • a harmonia é o conjunto dos sons quando tocados ao mesmo tempo, e ela acontece, por exemplo, quando algum instrumentista executa acordes no violão ou piano, formando o que chamamos de acompanhamento;
  • o acompanhamento tem esse nome porque sua função é acompanhar alguma melodia, sendo as melodias sons tocados uns depois dos outros, como quando ouvimos alguém cantar ou uma flauta tocar.

Trabalhos recentes

Em 2021, o compositor carioca lançou dois trabalhos de peso: o inédito Zaboio e Japan Tour. Este último, uma coletânea de gravações ao vivo da turnê japonesa que aconteceu antes da pandemia de Covid-19, foi um grande sucesso de público e crítica.

Zaboio, obra inteiramente inédita, traz composições inspiradas pelas memórias afetivas do compositor. Um álbum em que todas as faixas foram compostas por ele, incluindo letra e música.

Seu reconhecimento nacional e internacional

É curioso perceber que o violonista carioca costuma alcançar maior reconhecimento fora do Brasil. Segundo ele próprio, “eu gostaria de tocar mais no Rio de Janeiro, porque sou daqui, mas há poucas oportunidades”.

Gigantes da música do mundo já declararam seu apreço pela obra de Guinga, como é o caso do violonista espanhol Paco de Lucia, falecido em 2014, e do gaitista belga Toots Thielemans, que nos deixou em 2016.

Sempre que é elogiado por essas verdadeiras celebridades do meio musical, Guinga é citado como alguém que tem ideias muito peculiares sobre as harmonias das músicas, e que costuma compor melodias longas e cheias de mudanças.

Por sinal, o compositor não gosta muito de receber letras para musicar. Seu processo é inverso: ele cria primeiro a música de suas canções e então as envia para nomes como Paulo César Pinheiro e Chico Buarque escreverem a letra. O falecido escritor Aldir Blanc também foi parceiro de Guinga por muitos anos.

Esses parceiros manifestam sua opinião sobre as dificuldades de colocar letra nas melodias de Guinga. Segundo eles, os trechos melódicos são longos e mudam em momentos inusitados.

Tudo isso confere às composições de Guinga um toque muito peculiar e único.

O que você pode aprender com Guinga?

Guinga é um daqueles grandes nomes cuja música faz mais do que nutrir nosso espírito: ela tem a capacidade de nos inspirar.

Esse artista, uma pessoa simples, um carioca do subúrbio é, antes de mais nada, alguém que se destacou por acreditar na música de seu próprio país. Guinga encontrou uma maneira peculiar de compor, fruto de suas próprias pesquisas musicais.

Ele é uma pessoa que acredita no trabalho duro, muito mais que no talento. Então, essas são algumas lições que servem também ao iniciante no violão: aprender com os grandes é ótimo, e a música brasileira é muito rica em exemplos musicais.

Por outro lado, é interessante buscar desde o início sua própria forma de fazer música, algo que, a exemplo do grande compositor de Jacarepaguá, só é possível com dedicação e esforço.

É claro que não vale a pena se comparar a Guinga, um músico profissional que dedicou sua vida a compor, principalmente se você estuda violão por hobbie. No entanto, é bom que você saiba que o estudo por alguns minutos, diariamente, vai levar você a lugares em que nunca imaginou estar.

Se quiser aprimorar seus talentos no violão ou começar a tocar do zero, não deixe de dar uma olhada na nossa página de cursos. Lá, temos uma trilha de aulas que vai facilitar o seu percurso e ajudar a ganhar tempo.


SA
Ir para a próxima aula

Acordes

Conteúdos relacionados

Ver mais